ASBRAD

Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude

Pesquisa de Fatec prova facilidade de aliciamento na internet

Ingenuidade e falta de oportunidades de trabalho estão entre os fatores que mais contribuem para o tráfico internacional de pessoas. Essa foi uma das conclusões do trabalho Tráfico de pessoas – um crime cibernético, desenvolvido por estudantes do curso superior tecnológico de Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS) da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Americana. O projeto atendeu a um pedido da Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude (Asbrad), organização que atua no combate ao tráfico internacional de pessoas, que tinha como objetivo alertar famílias e jovens para as falsas promessas espalhadas pela internet.

Sob a coordenação de Graziella Rocha, da Asbrad, Daniel Freire, Eduardo Watanabe, Maiara Martins e Rebecca Barbosa desenvolveram um site falso para uma agência fictícia de recrutamento, a Global Competition for Work, com o objetivo de atrair jovens interessados em trabalhar no exterior. A página recebeu 387 acessos e 82 inscrições no período de 11 dias. As vagas mais procuradas na plataforma foram para jogar futebol na Europa e trabalhar em cruzeiros marítimos.

O aliciamento cibernético geralmente é feito por criminosos para as práticas de exploração sexual, adoção de menores, venda de órgãos e trabalho escravo. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) cerca de 2,4 milhões de pessoas são vítimas do tráfico no mundo, a cada ano.

Os sites de emprego e perfis nas redes sociais são as ferramentas mais usadas por quem comete esses crimes. Com a proposta de alertar as pessoas, os estudantes da Fatec desenvolveram uma plataforma bastante fiel às propostas reais de aliciadores virtuais. Para reproduzir essa realidade, a Asbrad compartilhou com os alunos relatos de vítimas que já caíram nessa fraude, mas foram resgatadas. O formato do site, as vagas oferecidas e o formulário de inscrição foram inspirados nas informações da entidade.

Vulnerabilidade

A estudante Rebecca Barbosa se surpreendeu com a adesão dos usuários. “A incompatibilidade dos dados era muito explícita e a descrição de vagas continha alertas que não foram percebidos pelos internautas”, afirma. Ela conta que as vagas do site não exigiam o domínio de um idioma estrangeiro e os candidatos não pagariam pela passagem, acomodação e alimentação.

Outra informação que poderia despertar suspeitas é a de que o candidato não precisava ter experiência anterior na função que almejava. Para trabalhar, por exemplo, como modelo New Face Brasileira, uma das vagas disponíveis, não era preciso ter prática nem corresponder aos padrões de beleza. Mais um fato inusitado do site é que o termo de aceite para finalizar a inscrição esclarecia que as oportunidades eram “meramente ilustrativas” e que a plataforma fazia parte de um projeto social baseado na lei nacional de combate ao tráfico de pessoas. Ainda assim, nenhum usuário se manifestou ou questionou esse aspecto.

A equipe de estudantes produziu também uma carta para ser enviada aos candidatos que se inscreveram no processo de seleção. Além de esclarecer que o site faz parte da campanha de conscientização contra o tráfico de pessoas, o texto visa engajar os usuários nessa luta, para que os sonhos não se transformem em armadilhas.

Talk Show

Os alunos da Fatec Americana foram convidados a participar de um talk show sobre crimes cibernéticos na Secretaria de Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, onde apresentaram a plataforma digital. O grupo também participou do Desafio IBM BlueHack Tráfico de Pessoas, conquistando o primeiro lugar.

Fonte: Centro Paula Souza